Parabéns Ideal pelos teus 90 anos
Hoje, o Sporting Clube Ideal está de parabéns pelos seus 90 anos de existência. É o clube mais antigo do concelho da Ribeira Grande com atividade ininterrupta e com serviço à comunidade. É uma agremiação desportiva dedicada especialmente ao futebol, embora no passado tenha tido esporadicamente outras modalidades como o atletismo, o ciclismo e o futsal. Sempre teve dificuldade em ser um clube eclético.
Nasceu como Ideal Futebol Clube, segundo se julga, a 2 de fevereiro de 1931, dia da padroeira da freguesia da Matriz: Nossa Senhora da Estrela. É filial da Associação de Futebol de Ponta Delgada e do Sporting Clube de Portugal, com o n.º 132, a partir de 1978, sensivelmente. É uma Instituição de Utilidade Pública por direito próprio por prestigiar a prática desportiva e servir o futebol.
Foram gerações seguidas de gerações que deram vida ao Clube e dele receberam lições de grande utilidade social, ou seja, a missão da promoção desportiva junto dos jovens tem sido concretizada e, certamente, com ela a melhoria de cada um como cidadão.
Do seu palmarés contam títulos relevantes, sobretudo, a partir do início da década de 70. Campeão das 2.ª e 1.ª divisões distritais (nesta várias vezes), vencedor de várias taças de S. Miguel, de Honra e dos Açores, foi também campeão açoriano e, hoje, milita nos Nacionais de Futebol, mormente no Campeonato de Portugal por direito próprio. “O Ideal” pode orgulhar-se do seu trajeto e com ele os ribeiragrandenses. Todo este palmarés poderia ainda ser maior se por motivos da história do futebol micaelense, o Clube não andasse arredado, como tantos outros de vilas e freguesias, das competições da AFPD por mais de um terço da sua história.
Contudo, há questões estratégicas e de futuro que urge pensar sob pena de clube populares como o Sporting Ideal continuarem a existir sob padrões obsoletos e fora do tempo. A sociedade mudou e muito e o Desporto também. A ligação afetiva e associativa das pessoas diminuiu de forma drástica dando ao seu tempo uma utilidade cada vez menor nas agremiações desportivas. Hoje, temos uma crise de dirigismo, profunda e sorrateira, que poderá levar ao encerramento de mais uns tantos clubes, se não for repensado o seu modelo de existência. O diretor devoto, dedicado e sem horas, está em vias de extinção!
Acresce a isso o fator financeiro. Toda a gente quer ser paga. Nos clubes de hoje praticamente quem não ganha o que quer que seja – prémios, gratificações, salários, etc. – são só os dirigentes. Indo-se o coração fica a veia dita profissional que tudo vai avassalando! Da permanência longa nas funções – mesmo não desejada não poucas vezes – faz-se o cansaço aliado à falta de rotatividade provinda de Assembleias Gerais de dez ou doze associados que mais não fazem do que sancionar mandatos para os mesmos!
A maioria das autarquias não pensa estrategicamente com os seus clubes. Limitam-se a uns apoios financeiros em cerimónias de salão, que mascaram a falta de pensamento em prol de um futuro melhor do desporto nos seus concelhos. Assim, não são pensadas instalações – hoje cada vez mais exigentes – sedes, transportes e orientações desportivas quanto à modalidade. Os clubes são deixados à sua sorte e, por vezes, não poucas, à voz de quem grita mais alto com objetivos políticos de retorno e compensação. É fundamental alterar este comportamento face às fragilidades de associações importantes no espaço comunitário.
Há um tempo e uma relação que sinto diferente. Há toda uma linguagem que sinto morrer: “o amor ao clube”, “o amor à camisola”, “a mística do clube”, a relação das famílias com os seus clubes e no seu lugar vejo muitos vazios, muito modo asséptico de ser, muito “profissional” com corpo e sem alma. Temos, contudo, de aceitar o tempo e dele retirar o melhor para o futuro.
Importa clarificar hoje, mais do que ontem, a natureza de um clube e avançar com segurança para a nova pele. O clube popular, como o meu “Ideal”, tem de definir, em debate construtivo, a sua nova identidade. Em que é que seremos diferentes do passado? Podemos pensar em SADs ou outros modelos de gestão desportiva? Aumentar a quota de profissionalismo num novo modelo de gestão? Com que objetivos? O que fazer com o departamento de Formação a nível de recursos humanos e financeiros? No fundo, o que é que queremos ser nos próximos 10 ou 20 anos?
Nestes 90 anos do Sporting Clube Ideal continuo a acreditar que o meu clube, com os seus problemas, terá um futuro risonho fazendo jus ao seu passado. Muito se construiu com o suor e o esforço de muitos associados, adeptos, dirigentes, jogadores e simpatizantes!
Acredito, sobretudo, na sua juventude. Temos de nos orientar para afirmar na ilha de S. Miguel o papel de clube Formador de jovens, organizado, participante com espírito vencedor nas competições locais. Neste sentido, temos de olhar para a nossa Formação de forma totalmente diferente. Nos últimos 10 anos o clube teve sempre mais de 100 jovens inscritos em todos os escalões de futebol! É preciso saber usar melhor este diamante!
Torna-se quase obrigatório por época promover 2 a 3 jogadores à equipa principal do clube. Articular com outros clubes a colocação de jovens em desenvolvimento e aumentar progressivamente o nível e a qualidade dos treinadores de Formação, enquadrando-os devidamente nos escalões onde possam desempenhar melhor as suas funções.
Acredito na força das pessoas que fazem o Clube. Foi essa força que fez que nunca encerrasse portas, que passasse por diversas crises, que se construísse uma sede marcante na cidade, que se fizessem e alterassem estatutos como enquadradores da vida organizativa do clube, que se fizessem digressões aos EUA e Canadá e que se transportassem tantos “ideias” naqueles que tiveram de emigrar e nunca deixaram o seu clube.
Tenho de confessar que gosto particularmente do emblema do Ideal. O atual é fruto de uma evolução que só o enriqueceu. Está bem presente a freguesia que o viu nascer – Matriz – através da estrela, da ribeira e da ponte, mas também a sua modalidade predominante, o futebol. A força simbólica do leão é perene e é dela que para o futuro precisamos.
Foram tantos e tantos que serviram o Ideal, o apoiaram, o dirigiram, o treinaram e dele fizeram uma referência positiva da Ribeira Grande e dos Açores. A todos o Clube diz: Obrigado!
Pela minha parte “só devo coisas boas ao Ideal”. Fez-me ser melhor pessoa. Fez-me crescer com outros e fez-me ter respeito pelo esforço de cada um.
Parabéns Sporting Clube Ideal pelos teus 90 anos e que tenhas força e saúde para mais 90! É o meu desejo profundo e de tantos outros também.
Ricardo Silva
Ribeira Grande, 2 de fevereiro de 2021