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Ideal

É bandeira da cidade da Ribeira Grande, é o terceiro clube activo mais antigo inscrito na Associação de Futebol de Ponta Delgada, os seus fundadores, querendo ter por lema o ideal desportivo, baptizaram-no de Ideal Sport Club, passando em 1963, a pedido dos sócios, a Sporting Clube Ideal, mas toda a gente o conhece simplesmente por Ideal da Ribeira Grande.

Futuro

Seja ou não o clube do nosso coração, quem não louvará nove décadas de dedicação de dezenas de carolas, que, não tendo gerado nenhum Luís Figo, Eusébio, ou Cristiano Ronaldo, formaram prestantes cidadãos? Será esta a principal virtude do Ideal. Serve de exemplo a Direcção presidida pelo Jorge Correia, a quem devemos estar gratos e louvar a entrega nestes tempos difíceis e cruéis. Devem os seus sócios, simpatizantes e dirigentes, aprendendo a amarga lição de fracassos anteriores, ambicionar subir a escalões mais altos do futebol nacional. É a Cidade que o exige. E a sobrevivência do clube que o impõe. Não será sonhar demasiado alto. Quem diria que um golo obtido em tempo de desconto, contra o Ideal e na Ribeira Grande, marcaria o início da fulgurante carreira que levaria o Santa Clara à I Divisão Nacional? Mas para tal é necessário que as forças vivas locais o entendam e dêem contributo assinalável, e sobretudo acreditem que, com esforço e dedicação, tudo se consegue. É necessário que haja (passada esta terrível pandemia). Será ainda, necessário que o Complexo Desportivo da Ribeira Grande, hoje dirigido à distância nas Laranjeiras, seja administrado por quem conheça ou queira conhecer as nossas necessidades no âmbito do fomento desportivo. O Ideal é a equipa do Concelho que mais atletas forma, e uma das primeiras na ilha, em todos os escalões etários, e que há mais tempo o faz. Merece-o. Assim sendo, haverá futuro para o desporto do Concelho e da Cidade.

Em busca do Ideal I Nascimento: ‘o Ideal Velho’

Conhecem-se duas versões acerca dos fundadores, do dia e do ano da fundação do Ideal. A primeira versão, que aponta o dia 2 de Fevereiro de 1931, sem indicar os fundadores, surge em todos os impressos oficiais do clube a partir da década de quarenta, mas não vem referida nos primeiros ofícios conhecidos da década de trinta, nem nos Estatutos do clube (1951 e 1963), nem sequer em nenhuma outra documentação escrita conhecida. Aliás, exceptuando um ofício inédito de 1933, uma carta manuscrita dos proprietários do Campo do Rosário, de um cartaz de 1933 e de duas ou três notícias vindas a lume em jornais, desconhecem-se outras referências escritas aos primórdios do Ideal. Esta versão, assim, fundamentar-se-á na tradição oral veiculada pelos adeptos mais antigos do clube, sem, todavia, apresentar quaisquer provas. Ou seja não indicam sequer os autores da afirmação. Vem repetida, sem quaisquer comentários, em artigo de 1981, da autoria de Abílio Baptista denominado Quatro clubes da Cidade. Pólos de desenvolvimento desportivo da Ribeira Grande.. (Correio dos Açores, 29.06.1981). Uma segunda versão, de que existiria um Ideal fundado por Manuel ‘Garrido’, aliás Manuel de Sousa Pereira, antes de 1931, e de um novo fundado posteriormente por Manuel da Costa Furtado Ponte, é adiantada por Armindo Moreira da Silva, em artigo intitulado Redescobrindo o futebol na Ribeira Grande (Correio dos Açores, 22.08.1996), porém, não adianta igualmente quaisquer provas. A este respeito, numa entrevista ao Sr. José da Silva Tavares, ocorrida em 1996, quando lhe inquirímos acerca de quem teria sugerido o nome Ideal, José da Silva Tavares adianta que tal tinha sucedido quando vinham ‘do clube do Lusitânia, na casa de José Cabral.’ E, questionado acerca da existência de um Ideal anterior a 1931, respondeu, sem hesitar, ‘não.’ Hermano Ferreira Grota e Manuel do Rego, membros do núcleo inicial Idealista, corroboraram a inexistência de um Ideal anterior ao seu. Não se conhece o Livro de Roteiros Quaresmais para o ano de 1931, todavia, na Quaresma de 1930, Manuel de Sousa Pereira está arrolado na rua do Saco. E na de 1933, na rua do Passal, mas não na casa actual da família. De acordo com D. Liliana Teixeira, sua filha, terá casado com 26 ou 27 anos, em 1927 e 1928, permanecendo um ou dois anos a residir em casa da mãe, ou próxima da da mãe, na rua do Saco. Só cerca de 1942 foi residir para a casa actual da família (rua do Passal n.º 18). Em ofício datado de Abril de 1929, (será ele?) aparece um Manuel de Sousa Pereira como vogal da Direcção do Águia Sport Club, presidida por Francisco Justino Machado, e cuja sede se localizava então na rua Conde Jácome Correia, na mesma em que nasceria o Ideal. A alusão ao período pós-incêndio do Cine-Teatro Ideal, acontecimento que teve lugar em 1930, em Ponta Delgada, como algo que terá sugerido o nome Ideal, conforme testemunho de José da Silva Tavares, ainda que negada por Manuel do Rego, parece sugerir a criação do Ideal em data posterior à ocorrrência do incêndio de 1930. Apresentaremos outras quatro versões: as três primeiras, correspondem aos depoimentos de Hermano Ferreira Grota, alegadamente half back esquerdo da primeira equipa do Ideal, de José da Silva Tavares, nasceu em 21.11.1913 e faleceu em 9.11.1999, que fez as botas ou ajudou a fazer as botas do primeiro Ideal e se afastou por divergências, e de Manuel do Rego, nasceu em 10.05.1916, e alega ter dado o nome ao grupo e não participou no primeiro jogo por o pai o proibir. Sucede que, a data da fundação do Ideal surge intimamente ligada à idade que os nossos protagonistas alegam ter na altura: 18 anos para José da Silva Tavares, portanto teria sido em 1931, mas depois diz que teria sido em 1932 ou 1933, não teria 16, mais tarde posto em dúvida pelo próprio, para Hermano Ferreira Grota, seria em 1930, e 15 ou 16 para Manuel Rego, seria em 1931 ou 1932. Mas coincidem quanto ao local da primeira sede, casa do pai de Hermano Ferreia Grota, ao primeiro responsável, Sr. Gildo Paiva Furtado, ao objectivo do nome Ideal e a quem fez a primeira bola, Mestre José Leite, aliás Paiva Cabral, à origem americana do equipamento e à sua cor verde e branca e à tenda de Mestre de Manuel da Costa como o local onde se fizeram as primeiras botas. Discordam quanto a quem pôs o nome, a quem terá feito as primeiras botas e a quem terá trazido o equipamento. A utilização em História de fontes orais obriga o Historiador a ter em conta, entre outros, por um lado, a dinâmica (re)criativa da memória, por outro, o esquecimento e a confusão. Pelo que, só confrontando os depoimentos orais com documentos escritos se poderá aceder com mais segurança aos factos. Uma quarta, a primeira referência escrita conhecida, menciona o nome Ideal Sport Club num ofício datado de 21 de Abril de 1933 (ofício enviado pela direcção da Liga Desportiva da Ribeira Grande, a dar conhecimento da sua existência, à Associação de Futebol, de S. Miguel, em que declara: ‘[…] António Furtado (representante), pelo Ideal Sport Club.’ A segunda referência escrita conhecida veio a lume no Jornal ribeiragrandense A Razão, propriedade de Fábio Moniz de Vasconcelos, Presidente da Liga Desportiva Ribeiragrandense, onde se notícia a participação do Ideal no jogo inaugural do Estádio do Rosário (terrenos hoje ocupados pelo Posto Agrícola – Depoimento de Manuel Meneses Silva, 79 anos, 1.05.2002), frente ao Águia Sport Club, no Domingo, 22 de Outubro de 1933, pelas 15 horas. É de admitir, que os primeiros passos do Ideal, data da fundação, etc., de acordo com os depoimentos dos senhores Hermano Ferreira Grota, José da Silva Tavares e Manuel do Rego, pelo facto de desconhecermos outros, ou outras fontes escritas anteriores a 21 de Abril de 1933, a não ser que se descubram novas provas, continuarão a ser algo misteriosos. Nos primeiros tempos, ainda antes do grupo inicial de rapazes ter escolhido o nome Ideal, ainda antes de ter convidado o Sr. Gildo Furtado Paiva a organizar o grupo, sem equipamento, ou usando simples ‘camisas de meia branca’, joga futebol. Mais tarde, alguns deles jogam no Ideal. Porém, que se saiba, nada deste período ficou registado em jornais ou outros documentos, a não ser na memória, hoje difusa, ambígua e contraditória dos intervenientes sobreviventes, ou então houve mas perdeu-se-lhe o paradeiro. No estado actual da pesquisa, poder-se-á propor, com cautela, que antes de 21 Abril de 1933, já existiria o Ideal. Quando exactamente, não se sabe. Poderá ter sido em 1932, ou 1931, ou até antes.

Parabéns a todos

Mário Moura

1 de Fevereiro de 2021